sábado, 12 de novembro de 2005

Ipueiras - Uma síntese histórica - Por Jeremias Catunda


O local onde hoje se situa a cidade de Ipueiras fazia parte da imensa propriedade que pertencia ao famoso Manuel Martins Chaves, Coronel do Regimento de Cavalaria, Presidente do Senado da Câmara da Vila Nova de São João d'El Rey e uma das figuras mais curiosas da crônica colonial. O império do poder desse homem singular estendia-se por uma amplitude geográfica imensa, alcançando o Planalto da Ibiapaba e indo fenecer já nos sertões dos Inhamuns, onde outros potentados, os Feitosas, estabeleceram "limites de guerra", na conceituação do saudoso jornalista Waldery Uchoa.

Certo dia do ano de 1806, João Carlos Augusto de Oeynhausem e Grewenburg, Governador da Capitania, homem de pouca conversa e muita ação, resolve pôr termo ao ilimitado poder de Manuel Martins, acusado, à época, de mandar praticar crimes terríveis, inclusive o assassinato do Coronel Porbem Ribeiro, juiz da Vila d'El Rey. E lá se foi o Governador para a Ibiapaba passar a revista nos Regimentos da Capitania. O certo é que Manuel Martins, querendo ser gentil a João Carlos, o acompanhou através de várias pousadas, até que, em Ibiapaba, a bomba explodiu: debaixo de uma grande barraca estava uma mesa e sobre ela Oeynhausem colocou uma coroa. Em seguida perguntou a Manuel Martins Chaves se a conhecia, ao que ele respondeu: "é de Sua Majestade, minha Senhora". "Pois em nome dela se considere prisioneiro".

Era o fim do grande potentado. Foi, meses depois, recolhido aos cárceres da prisão de Limoeiro, em Portugal, onde faleceu no dia 23 de maio de 1808. Posteriormente, as suas propriedades foram confiscadas. A "Fazenda Ipueiras" foi retalhada e um dos seus adquirentes, Joaquim Alves Linhares, anos depois, ao se retirar para o Piauí, doou o seu quinhão para servir de patrimônio a Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Ipueiras.

UM PADRE FUNDADOR DA CIDADE



Após a criação da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ipueiras, e embora anteriormente já tivessem tentado moradia alguns povoadores, isso em outubro de 1883, a verdade é que Ipueiras principiou os seus melhores dias de existência quando passou a residir no pequeno arraial o Padre Francisco da Mota Souza Angelim, filho dos Inhamuns. À sua chegada, a capela que fora mandada erigir em 1867, pelo Coronel Vicente Gomes Ferreira, teve as suas portas abertas e passou a ser olhada com carinho pela Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos, povoado em franco desenvolvimento, a cuja freguesia até então Ipueiras pertencia. Homem hábil, inteligente, maneiroso, de marcante personalidade, o Padre Angelim foi conquistando ovelhas ao mesmo tempo que estimulando a construção de casaria de melhor porte. E aos poucos lá se foi melhorando o povoado.

Prosperava a Vila, visto como, eleito Deputado Provincial, o Padre Angelim fez aprovado um projeto de sua autoria em 1883, na Assembléia Provincial, criando aos 25 de outubro o município de Ipueiras, desmembrado de Ipu, tudo de acordo com a Lei nº 2.036. Por caprichos políticos o município foi extinto em 1884, fato levado a efeito pelos adversários do Padre Angelim. Em 1890, restaurado. Em 1933, a politicagem de alguns chefetes voltou a agir e o município foi novamente extinto, para ser restaurado definitivamente em 18 de março de 1935. Em 1938, a Vila foi elevada à categoria de cidade. O Padre Francisco da Mota Souza Angelim faleceu aos 18 de julho de 1884 e os seus restos mortais repousam na nave da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Ipueiras. *PC*



> Folheto comemorativo do 1º Centenário de Ipueiras, 1883-1983.